segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Piloto automático

Contrariando uma tendência dos últimos anos, segundo a qual quem saía não voltava a entrar, o médio Nuno Piloto regressou à Académica após uma ausência de quatro anos. Surpreendentemente, a tendência já havia sido quebrada com o regresso de dois outros jogadores, no início da época: Ivanildo e Diogo Valente também voltaram a Coimbra depois de ausências mais ou menos prolongadas.

Durante anos, parecia haver uma maldição sobre quem saía da Académica. Recordo apenas dois casos de jogadores que quiseram voltar e viram as portas fechar-se: João Tomás, academista confesso, tinha o sonho de terminar a carreira no seu clube. Fez várias tentativas para voltar, mas a direcção nunca acedeu às suas pretensões. E todos sabemos como teria dado jeito, em certas ocasiões, ter alguém na área, com faro pelos golos, como tinha o João Tomás que é, certamente, o ponta-de-lança português mais goleador da última década.

Outro exemplo dessa “maldição” era o próprio Nuno Piloto. Tal como João Tomás, o médio foi formado na Académica, onde, inclusivamente, tirou um curso superior. Não devemos engar-nos ao dizer que deve ter sido o último jogador profissional da Académica a obter o “canudo”. Depois de uma época em Chipre – onde se lesionou com gravidade – Piloto quis regressar e ligou a um alto dirigente da Académica a quem deu conta disso. “Espera um telefonema nosso”, ter-lhe-ão dito. A chamada nunca aconteceu.

Por ter sido um dos últimos jogadores-estudantes e, além disso, ter sido capitão de equipa, quando regressou pela primeira vez a Coimbra, ao serviço do Olhanense, Nuno Piloto foi longamente saudado pela Mancha Negra, aos gritos de “salta, Nuno, salta, Nuno, olé”. Deve pois ter sido com agrado que a massa adepta da Briosa recebeu a notícia de que o seu antigo jogador tinha voltado a casa. Eu, pelo menos, fiquei muito contente com isso: é um símbolo da Académica, uma referência da mística coimbrã como não havia outro no plantel desde há quatro anos. E a Académica precisa de quem perpetue essa mística, porque já não há manos Campos, nem Gervários, nem Rochas, nem Pedros Romas, nem outros, que foram terminando as suas carreiras sem haver sucessores. O último tinha sido precisamente Nuno Piloto.

Não me interessa o quanto vale Nuno Piloto como jogador. Como referência da mística da Académica, eu promovia-o automaticamente a capitão de equipa.

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